domingo, 7 de outubro de 2007

Entrevista com o escritor SACOLINHA



Ademiro Alves, o "Sacolinha", foi o segundo escritor a visitar a escola dentro do projeto Literatura (é) Possível, em junho deste ano. Sacolinha é coordenador literário na cidade de Suzano, já publicou um livro de Romance, Graduado em Marginalidade e um livro de contos, 85 letras e um disparo - este último será relançado brevemente pela Global Editora. Conversou bastante com os alunos e alunas presentes sobre literatura, periferia, o quanto a palavra foi importante e transformou a sua vida; distribuiu livros, respondeu as perguntas e agradou aos alunos. Tanto que o seu livro é constantemente emprestado na biblioteca. Confira algumas fotos e a entrevista abaixo.

1) Quem é o Sacolinha, em poucas palavras?
Sacolinha: Um cidadão que vive o tempo todo inquieto e que não se contenta com pouco, por isso sempre corre atrás de melhorias para ele e para os seus, amigos e parentes.

2) Como se tornou escritor?
Sacolinha: Foi através de revolta, muita revolta, aí depois comecei a ler, li tanto que fiquei com problemas nas vistas. De tanta leitura e revolta comecei a botar as coisas no papel, e deu no que deu.

3) Qual a impressão que a nossa Escola transmitiu à você? E os alunos?
Sacolinha: Boa, pelo menos da parte dos alunos que participaram da minha palestra, e com certeza estão assim por conta desse projeto “Literatura (é) possível”, pois penso o seguinte: não é que o aluno da escola pública não gosta de ler, é que não o ensinaram a gostar de ler.
Fora isso o que achei ruim foi o espaço da sala onde desenvolvemos a palestra, não por mim, mas pelos alunos que tiveram de se aglomerar. Ah, e teve também a falta de educação da secretária da escola (Obs.: A Celina esclarece: não foi a secretária, foi uma escriturária), até esqueci o nome dela, que nem bateu na porta para entrar e já foi fazendo baixaria, um barraco total. Não precisava daquilo.

4) Quais dificuldades você encontrou na Oficina de Literatura?
Sacolinha: Como já disse, a sala estava muito apertada para os alunos e a poeira que creio ser o resultado da reforma. Com relação aos alunos, questionamentos e silêncio, não tenho do que reclamar.

5) Quais lembranças você guardou da época da escola? Ela contribuiu para o desejo de você se tornar escritor?
Sacolinha: Só lembro da professora de literatura que nos obrigava a ler se não iríamos ficar com nota vermelha. Isso era ruim pois não líamos com prazer e nem líamos aquilo que queríamos, infelizmente. Assim, na 5ª série aprendi a não gostar de literatura, só voltei a ler depois que saí da escola, isso em 2002.
Se contribuiu para o desejo de eu se tornar escritor?
Nem preciso responder, né?

6) Para que serve o escritor?
Sacolinha: Sinceramente eu não sei, acho que só serve para ele mesmo. Pra se vingar das coisas e pessoas, pra colocar no papel suas vitórias e conquistas, ou talvez serve para mudar a cabeça das pessoas.

7) Vale a pena ser escritor no Brasil?
Sacolinha: Cultural e socialmente falando, sim, mas financeiramente não. Acho que nem aqui e nem em outro país.

8) Para quem você escreve?
Sacolinha: Para mim, minha família, minha vizinha, meus amigos, para o Lula, o Bush, o Bin Laden, enfim, escrevo para todo mundo.

9) Uma frase que você diria para uma criança ou adolescente que quer ser escritor, mas os pais não apóiam a idéia?
Sacolinha: Eita, passei por isso também. É normal os pais não apoiarem coisas ou profissões que não trazem dinheiro no fim do mês. O negócio é persistir sempre, e no campo da literatura aí é que tem que persistir mesmo. Mas nunca deixe de estudar e ter uma profissão, já que infelizmente “escritor” não é considerado uma profissão.

10) Quando você pretende lançar o próximo livro?
Sacolinha: Em 2008 lançarei meu primeiro livro infanto-juvenil. Talvez lanço também meu novo romance que estou escrevendo, chama-se “Estação Terminal”.

11) O que você acha da proposta do projeto Literatura (é) Possível?
Sacolinha: Primeiro acho ser um projeto muito ousado, porque desenvolver um projeto desse em escola pública, onde não tem incentivo dos próprios colegas professores, e ainda tirar dinheiro do próprio bolso, é loucura. E em segundo lugar, acho mesmo que trata de uma revolução pedagógica, já que nem os PCN’s e OCN’s tratam a literatura de forma especial.

12) O que você achou do nosso jornal?
Sacolinha: Esse jornal, além de estimular os alunos a trabalhar em equipe, faz com os mesmos sintam-se úteis, já que muitos andam com a auto-estima baixa achando que é culpa deles não saber matemática ou o português padrão.

13) Conte sobre alguma história que você escutou e você publicou em algum de seus livros.
Sacolinha: Nossa, são várias. A maioria dos meus escritos são frutos das coisas que escuto no trem, ônibus, no serviço e na rua. O meu segundo livro “85 Letras e um Disparo” tem muitos contos que foram feitos depois de eu ter anotado alguma coisa num papel qualquer. Ou seja, alguém que fala uma palavra, frase ou um fato que desperta algo na minha cabeça de escritor.

14) Considerações finais? Algo que não foi perguntado mas acharia importante falar?
Sacolinha: Por enquanto é só. Valeu!



para saber mais, acompanhar notícias do Sacolinha, visita o seu blog:



Nenhum comentário: