sábado, 22 de setembro de 2007

Entrevista com o Escritor MARCELINO FREIRE


Marcelino e o seu "teco" de lousa: uma das dificuldades da oficina


No dia 10 de maio de 2007, uma quinta feira, o escritor Marcelino Freire realizou um encontro literário com os alunos do MESQUITA. Foi a abertura do projeto Literatura (é) Possível. A expectativa e a apreensão eram grandes. Daria certo? Dentro da medida - e das dificuldades - sim. O Fique de Olho! aproveitou a ilustre visita e elaborou algumas perguntas para os escritores. Acompanhe aqui na ÍNTEGRA:


1) Quem é o Marcelino, em poucas palavras?
RESPOSTA: Um cara teimoso. Um escritor persistente. Alguém que não se conforma. Inquieto, sei lá.

2) Como se tornou escritor?
RESPOSTA: Creio que me tornei, me senti escritor depois da publicação do livro de contos "Angu de Sangue". Até ele, não me sentia à vontade com o título de escritor, essas coisas. Mas "como quis ser escritor", ah, foi a partir da leitura que fiz, aos nove anos, de um poema do Manuel Bandeira chamado O Bicho. Comecei querendo ser Bandeira.

3) Qual a impressão que a nossa Escola transmitiu a você? E os alunos?
RESPOSTA: Até hoje causa-me impacto a lembrança do dia em que estive aí. Dos alunos Reunidos àquela pequena sala. Da vontade que os alunos tinham de participar. Do brilho-fogo nos olhos. Mesmo com todas as dificuldades ao redor e ave!





4) Quais dificuldades vocês encontraram na Oficina de Literatura?
RESPOSTA: A grande dificuldade foi na hora da escrita. Vi o vexame, a agonia de alguns na hora de colocar a idéia no papel. Havia limitações claras. Tive que orientar a oficina de uma outra maneira. Menos didática. Mais emocional, enfim. Aproveito para deixar, aqui, meus parabéns ao professor Rodrigo. É um herói - querer despertar o interesse pela literatura ao pessoal todo da
escola.

5) Quais lembranças vocês guardam da época da escola? Ela contribuiu para o desejo de vocês se tornarem escritores?
RESPOSTA: Boas lembranças, enfim. Foi na escola Prof. Alfredo Freyre, que fica em um bairro pobre do Recife, que eu fiz teatro. Que conheci Clarice Lispector, João Cabral de Melo Neto, por meio de uma professora chamada Gilda. Aprendi tudo o que eu sei hoje em colégio de estado. Sempre estudei em colégio de estado, do governo... Orgulho-me disso e eta danado!

6) Para que serve o escritor?
RESPOSTA: Escritor não tem serventia. Digo assim: de uso. Escritor serve para escrever, entende? E só. Serventia tem eletrodoméstico...

7) Vale a pena ser escritor no Brasil?
RESPOSTA: Apesar de tudo, estamos vivos. A luta é esta: estar vivo. Sempre prontos para a luta e bora embora. Mãos à obra.

8) Para quem vocês escrevem?
RESPOSTA: Eu costumo dizer que eu escrevo para me vingar. E assim vou escrevendo e me vingando... Escrevo para quem, como eu, tem esse desejo de vingança, creio.

9) Uma frase que vocês diriam para uma criança ou adolescente que quer ser escritor, mas os pais não apóiam a idéia?
RESPOSTA: Escrevam. Leiam, leiam. Eduquem seus pais, etc. e tais. E tenham paciência.

10) Quando vocês pretendem lançar o próximo livro?
RESPOSTA: Meu novo livro de contos, chamado "RASIF - Mar que Arrebenta",
será lançado no começo do ano que vem pela editora Record.

11) O que vocês acharam da proposta do projeto Literatura (é) Possível ?
RESPOSTA: Muito boa. Repito: professor Rodrigo está de parabéns. Nessa luta de puxar de cada aluno o gosto pela leitura-literatura. Saravá, amém!

12) O que vocês acharam do nosso jornal?
RESPOSTA: Nota dez. Continuem, continuem...

13) Conte sobre alguma história que você escutou e você publicou em algum de seus livros.
RESPOSTA: Sempre fico de ouvidos ligados para a conversa dos outros. A vida dos outros me interessa mais que a minha. Certa vez, ouvi uma mulher dizendo só isso: "dei, dei". Ela só dizia isso, quando um repórter de televisão a flagrou dando a sua filha, a sua criança na rua. Guardei esse "dei" dessa mulher durante muito tempo. E escrevi algo em cima disso. Criei uma
História (conto DARLUZ, do livro BaléRalé) para esse "dei" dela, entende?

14) Considerações finais? Algo que não foi perguntado mas acharia importante falar?
RESPOSTA: Acho que a minha resposta à pergunta número 9 de vocês, acima, poderia ser outra: eu poderia ter dito: "desistam". Que idéia é essa de ser escritor? Há coisas melhores para fazer na vida. Por exemplo: viver.


Para conhecer/saber mais sobre o escritor MARCELINO FREIRE, visite o seu blog:

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